EIS O CAMINHO DO INFERNO
- Comadre, o minguau de arroz hoje está melhor do que nunca.
Socorro riu, mostrando a bonita dentadura. Seus olhos brilhavam mais do que estrelas nas noites de verão do Maranhão. Nada lhe deixava mais feliz do que os elogios. Mas sabia dos exageros do Lopes...
- Compadre, não vai dizer nada hoje?
Lopes pensou, pensou.
O menino de cabelos cortados à escovinha se aproximou da banca da Socorro e ficou com a cabeça inclinada.
- O caminho do inferno passa por uma mulher muito louca.
Socorro deu uma gargalhada. E enquanto ria a não mais poder e servia um outro fregues, derramando mais minguau do que conseguindo colocar no copo, ainda conseguiu dizer:
- O compadre conhece o caminho do inferno?
Lopes olhou para aquela negra inteligente, a quem tanto queria bem, e devolveu a pergunta:
- E quem não conhece?
O menino afastou-se lentamente. Não ria. A Socorro também não ria.
Uma chuvinha miúda teimava em continuar caindo.
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TEXTO EXTRAÍDO DO ROMANCE MARANHÃO
Inácio Augusto de Almeida
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