domingo, 22 de janeiro de 2017

                                                  MADRUGADA CHUVOSA
                                     Resultado de imagem para imagem de noite chuvosa                                                                É PRECISO VIVENCIAR A LUDICIDADE    
     É madrugada e chove muito. Com certeza fui acordado pelo barulho da chuva. Engraçado, pensei começar esta crônica dizendo que chovia torrencialmente, mas torrencialmente já está tão batido, tão gasto... Como as coisas se vulgarizam, até mesmo as palavras se banalizam. E isto me leva à conclusão de que a única coisa realmente importante que existe nesta vida é o sentimento que se tem no coração. Tudo o mais é de pouca importância frente ao sentimento.
       Imagine comigo, vamos imaginar.
     Quando estamos com o coração cheio de amor o que importa um guarda roupa completo ou apenas um surrado jeans pendurado num cordão que se segura em dois pregos enferrujados? 
     E que diferença faz se o almoço foi uma pescada ao molho de camarão ou uma banana com farinha?
     Nada disto conta quando se está sonhando mais do que milhões de corações que vibram juntos, com total intensidade. 
     Se a madrugada é chuvosa ou calorenta? A madrugada neste momento será sempre linda, cheia de encantos, de poesias..
       Por que estou a lhe dizer tudo isto? Talvez para me convencer definitivamente da efemeridade de quase tudo, inclusive da vida, menos dos sentimentos. Não, não são os diamantes que são eternos. Apenas os sentimentos são eternos. Não vou dizer verdadeiros, pois não consigo conceber um sentimento falso. Se for falso, não é sentimento, é teatro.
       Agora eu estou a rir. Um riso triste, mas um riso. Imagino a sua cara de espanto. Se dúvida havia quanto à minha lucidez, acabou-se. Agora está presente a certeza da minha insensatez. Certo?...
       Pela janela começam a entrar os primeiros raios de sol que vão tornando claro o quarto escuro da casa vazia. Na palmeira que daqui avisto, pássaros cantam alegremente saudando o dia que chega. Interessante, os pássaros vivem a cantar. Devem ser felizes, muito felizes. Ninguém nunca viu um pássaro chorando, nem imaginar um pássaro chorando alguém consegue. Por que só nós, seres racionais, vivemos a chorar, a se lamuriar?
        Parei por alguns minutos e li o que acabei de escrever. Descobri enfim porque certos intelectuais publicam livros deixando algumas páginas em branco. Tenho certeza de que eles leem o que escrevem... Tá rindo? Eu também.
        Falando em livro, se não gostar do romance MARANHÃO, faça-me um favor. 
       Numa destas noites de lua cheia, quando a noite de Mossoró fica mais linda ainda, ao passar pela Ponte do Rio Mossoró, jogue o calhamaço, página por página, dentro do rio. E as folhas sendo levadas pelo vento irão caindo lentamente para mergulhar nas águas que refletem o mais belo luar que algum mortal sonhou ver, luar que eu tive um dia a felicidade de  quando ainda menino com ele embevecer-me e por toda uma noite, uma noite todinha, extasiar-me.
        Qualquer dia, quando a saudade vencer a minha preguiça descomunal, eu vou caminhar na madrugada calorenta desta cidade tão linda e tão maltratada por quem diz que a ama. Talvez até suba na grande árvore que existe perto do Colégio Diocesano e, se tiver sorte, ouvir as estórias fantásticas que só esta gente de Mossoró, gente que tão bem vive as emoções, sabe contar. E que conta com uma simplicidade só encontrável nos que conseguem realmente entender as verdades da vida.
        A luz do sol se faz mais forte e termina trazendo-me de volta à realidade, quebrando todo o encanto. Daqui a pouco é hora de ir pagar contas, xi, acabou-se o encanto totalmente.
        A fada madrinha fugiu pela janela, volte minha fada, volte...
      Inácio Augusto de Almeida
         Boêmio

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