CRÔNICA DO DOMINGO
QUANDO VOLTAREMOS A TER ESTA TRANQUILIDADE?
NOSSAS CULPAS
Vivemos assustados. Clamamos pela tolerância zero como forma de inibir a delinquência. Gradeamos as nossas casas e mantemos nossos filhos presos
aos jogos televisivos.
Perdemos o direito de ir e vir.
Pagamos o preço da substituição da fraternidade pelo egoísmo.
Trocamos o bom gosto pelo exibicionismo, a beleza pela utilidade, a
cultura pela riqueza. Só nos interessa o triunfo do materialismo e da
ciência. Nos importamos muito pouco com a religião e a arte.
Arte que
desintegramos em manias e maneirismos.
Buscamos a riqueza pela riqueza e nos esquecemos que a riqueza vem e a
paz se vai. O corpo prospera mas a alma decai. Porque a riqueza pela
riqueza equivale a perda da honra, do senso de beleza.
Nos transformamos
em amontoadores de coisas e nos ocupamos primordialmente em transferir
dinheiro alheio para o nosso bolso.
Vivemos assustados. Clamamos pela tolerância zero.
Pregamos ética, mas só praticamos a ética que nos é conveniente.
Condenamos o egoísmo alheio e nos esquecemos de que a amizade suplanta a
filosofia, e as crianças nos tocam a alma com a música mais profunda
que todas as sinfonias.
Um dia descobriremos que os homens não são máquinas.
Neste dia, não mais viveremos assustados, não mais clamaremos por
tolerância zero.
E transformaremos as grades de nossas casas em
balanços, onde as crianças risonhas sentirão a brisa da tarde num parque
de diversão, livres de qualquer medo.
E prezaremos mais o
aperfeiçoamento da vida do que a vitória na vida.
Se hoje as nossas cidades já não possuem alma, amanhã seremos nós que também não mais teremos alma.
Troquemos a nossa montanha de egoísmo, a nossa fraternidade de vitrine,
por um grão de humildade, por um pingo de amor ao próximo.
Já é hora de começarmos a reconciliação maior, única maneira de acabarmos com a violência.
E esta reconciliação plena começa dentro de nós mesmos.
Inácio Augusto de Almeida
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